O Momento Criativo: Mantenha uma Pergunta na Cabeça
Entenda como seu cérebro busca soluções criativas

Arquimedes mergulhou em uma banheira com uma pergunta na cabeça. Hierão II era seu parente distante, mas era também o tirano de Siracusa, e havia ordenado a Arquimedes que verificasse se a coroa que havia mandado fazer continha todo o ouro enviado ao artesão. Durante o banho, Arquimedes observou que o volume de seu corpo era igual ao volume deslocado de água na banheira, o que ficaria conhecido como Princípio de Arquimedes. Com isso, descobriu uma forma de medir o volume da coroa, e então comparar sua densidade com a do ouro puro. Saiu pelas ruas, nu, gritando “Heureka ! Heureka !”, que significa “Achei! Achei!”.
A noção de que a criatividade é um ato um pouco solitário e quase heróico faz parte do senso comum, assim como a atribuição de um caráter um pouco sobrenatural ao momento criativo e ao criador. Embora o momento da geração da idéia tenha efetivamente características particulares, não é assim tão especial, nem é exclusivo de pessoas especiais. Mas como será que funciona a geração de idéias em nosso cérebro, o momento criativo?
Em 2001, Daniel Goleman escreveu um livro com outros dois pesquisadores sobre o assunto. Para eles, o momento criativo possui uma anatomia de cinco etapas. O processo não é linear, as etapas encadeiam-se em um arranjo com múltiplos passos, em série e em paralelo, intercalados com retornos e sucessos e com muitos outros processos mentais. Pode ser complexo, mas entender estas cinco partes não é nada difícil e permite que cada um de nós as reconheça e atue para otimizá-las, o que vai gerar mais idéias criativas.
A primeira etapa é a Preparação, em que ocorre o mergulho no problema, com a investigação dos dados que podem ser relevantes. Começa com formular boas perguntas sobre o problema, o que já tem seus desafios. Vieses cognitivos podem nos fazer associar o problema a causas não necessariamente corretas. O importante aqui é que buscar informações de forma consciente sintoniza o cérebro para buscar outros elementos que podem ser relevantes. Uma grande armadilha é captar a primeira idéia que nos vem à cabeça, o que pode ser útil em situações de emergência, mas interrompe o processo criativo que poderia gerar idéias melhores. Eu frequentemente uso a frase “fique com a pergunta na sua cabeça por algum tempo”. Isso possibilita a continuidade das etapas seguintes do processo criativo e realmente funciona. Importante não confundir isso com simplesmente esquecer do assunto, ou ficar com o problema na cabeça por um tempo longo demais. Estou falando de algumas horas. Para questões mais complexas ou decisões mais importantes, até mesmo alguns dias.
A segunda fase é a Incubação, processo que ocorre quase inconscientemente, em que a mente busca respostas combinando os dados conscientes (cerca de 1% de tudo que a mente absorve) com os dados armazenados no inconsciente. Esta etapa é muito interessante porque faz nosso cérebro realmente buscar informações a que não teríamos acesso normalmente. Com a pergunta na cabeça, é comum encontrar informações em locais em que normalmente não iríamos buscar. Deve ter acontecido com você: com o problema na cabeça por um ou dois dias, você “tropeça” em sites, artigos, livros ou pessoas que tem informações relacionadas ao problema, e passa a fazer conexões novas. Um outro exemplo ocorre com casais que estão esperando um bebê: de repente, parece que há muito mais mulheres grávidas no mundo, o que obviamente não é real. É um sinal de que o cérebro passou a considerar o tema como mais relevante e passou a estar mais atento a informações do ambiente, que até então passavam despercebidas.
Devaneio é a etapa seguinte. É uma etapa totalmente realizada no inconsciente, quando as informações são conectadas. Ocorre normalmente quando nossa mente está tranquila, sem pensar em nenhum problema cotidiano em especial, e estamos mais receptivos às sugestões do inconsciente. Momentos de devaneio são freqüentes quando estamos no banho, ou dirigindo, ou nos distraindo. É importante criar estes momentos de relaxamento.
O fim do Devaneio ocorre num flash: é a Iluminação, o momento Heúreka. A resposta ou a ideia surge repentinamente, mas ainda como um pensamento, e às vezes não está completa, pode ser apenas a peça chave que faltava, e frequentemente é a conexão que não havíamos enxergado, o elo que nos faltava.
A última etapa é a Tradução, em que a ideia precisa ser capturada, transformada em ação e torna-se útil. Como o Devaneio e a Iluminação ocorrem em momentos dominados pelo inconsciente, é comum perder ideias nesta fase, elas simplesmente evaporam se não forem capturadas. Normalmente precisamos que a idéia seja fixada, por exemplo escrevendo alguma coisa, ou falando com outra pessoa, para que esta captura aconteça. Posteriormente, a tradução se completa com uma melhor formatação da ideia para que ela sobreviva, agora no consciente.
Para mim, a conclusão é de que a criatividade pode ser cultivada e estimulada. Buscar informações conscientemente aumenta a quantidade de materiais disponíveis para as etapas realizadas pelo inconsciente. Favorecer os momentos de Devaneio permite que o inconsciente funcione melhor, e reconhecer o processo e a importância da Tradução garante que as ideias não se percam. E tudo começa com boas perguntas mantidas na cabeça.
Pense nisso quando tiver um problema para resolver. Siga-nos no LInkedIn, e esteja atento aos artigos da Zinneke, que podem trazer informações úteis justamente sobre este problema. Considere e respeite as etapas em que o inconsciente pode trabalhar para encontrar uma solução e seja ainda mais criativo.
Eduardo Rocha é apaixonado pelo conhecimento e é fundador da Zinneke
#inovação #conhecimento #criatividade
Photo by
Kelly Sikkema on
Unsplash